Após sua libertação, Ollanta Humla começa sua campanha – Por Mariana Álvarez Orellana

O ex-presidente Ollanta Humala saiu da prisão no último dia de abril, junto com sua esposa Nadine Heredia, por ordem do Tribunal Constitucional, após nove meses de detenção, e já revolveu o vespeiro político peruano, ameaçando com apresentar sua candidatura presidencial daqui a três anos.

Humala fez referência “ao próximo plano de governo” e contou que aprendeu na prisão a ser mais sensível com a dor do povo e que “nos próximos governos nacionalistas, me comprometo a trabalhar para incluir uma política sobre as condições carcerárias, porque as famílias dos presos se fraturam por essa situação”.

Para Luis Benavente, diretor da consultora Vox Populi, “está claríssimo que Humala começou a fazer campanha, desde que pôs um pé fora da penitenciária. Um pouco mais e já lançava sua candidatura para 2021”.

“Ollanta Humala está tentando recuperar um pouco de terreno, porque os demais partidos estão golpeados pelo caso Odebrecht, e ele busca capitalizar a situação, quer se desmarcar de outros opositores que estão manchados pela corrupção, A liberdade recuperada é um triunfo político, assim pode se defender melhor e ter mais capacidade de atuação”, explicou.

E as palavras do ex-mandatário não deixam dúvidas: “agora que retomo as funções partidárias quero pedir à secretaria do partido para convocar uma assembleia e transmitir a cada um de vocês, e dos delegados, que comuniquem à família nacionalista que não estamos mortos. O que não nos mata nos torna mais fortes”. Disse também que sua passagem pela prisão foi “um martírio necessário para o Partido Nacionalista Peruano, para que este possa transcender”. Também não poupou ataques aos seus rivais políticos, mas sem mencioná-los diretamente.

Ainda assim, questionou a investigação que o Ministério Público realiza contra ele. “Nos investigam por ter confundido o interesse público com o interesse privado, não nos acusam por nossas gestões no governo… os demais sim. Estamos sendo investigados pela nossa origem”, reclamou.

Uma vez em sua casa, junto com Nadine Heredia, disse que este capítulo os fortaleceu e que sofrem “um julgamento midiático que passou a ser um linchamento”.

“Nadine (que também esteve presa) e eu saímos fortalecidos desta prova que a vida nos impôs, e queremos dizer que nós não vamos deixar o Peru, e continuaremos trabalhando para construir o país”, sentenciou.

O Tribunal Constitucional decidiu que a prisão preventiva imposta pelo Primeiro Tribunal Penal Nacional violou a Constituição, ao afetar o direito de defesa, a presunção de inocência e o devido processo. Mas não se pronunciou sobre o mérito da investigação, que seguirá seu curso. Humala é acusado de receber suposto financiamento ilícito, da Venezuela e do Brasil, para as campanhas de 2006 e 2011.

Nervosismo de Keiko

A anunciada reunião entre o presidente Martín Vizcarra e a ex-candidata presidencial Keiko Fujimori – que segundo o presidente do Conselho de Ministros, César Villanueva seria somente no dia 28 de julho – criou uma disputa entre congressistas das bancadas de duas alianças: a fujimorista Força Popular e Peruanos Pela Mudança, que apoiava o renunciado presidente Pedro Pablo Kuczynski e agora se mantém como força governista.

Juan Sheput, porta-voz da bancada governista, disse que Keiko, filha do anistiado ex-ditador e genocida Alberto Fujimori, “tem urgência em se reunir com o chefe de Estado, já que perdeu vários pontos nas pesquisas e deseja limpar sua imagem diante da opinião pública, por isso a necessidade de dialogar para não ficar para trás na corrida por 2021”.

O legislador acusou os fujimoristas de serem “os responsáveis por esta crise política” e recordou que se “antes era Kuczynski que necessitava se reunir com ela, agora é ela que precisa dele”.

Como resposta, a legisladora fujimorista Karla Schaefer afirmou que “uma aproximação entre Keiko e Vizcarra é positiva para o país”, e continuou contestando o porta-voz adversário: “Sheput perdeu sua seriedade, lembremos que sua atitude (questionadora) quando o presidente Vizcarra assumiu foi terrível. Uma reunião entre líderes políticos de setores diferentes é um sinal de maturidade”.

Keiko Fujimori se reuniu com o ex-presidente Kuczynski em duas oportunidades. A primeira foi na casa do cardeal Juan Luis Cipriani, em 2016, e a segunda no Palácio de Governo, em 2017.

Quando parecia que o panorama político se acalmava e a crise se diluía com a renúncia do anterior mandatário e a posse de Vizcarra, a liberação de Humala parece trazer novos ventos, e novas possibilidades.

(*) Mariana Álvarez Orellana é antropóloga, docente e investigadora peruana, analista associada ao Centro Latino-Americano de Análise Estratégica (CLAE)

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